27 de julho de 2011

Do que não pude. Das coisas que não posso mais....



Eu sempre quis te contar sobre aquele dia.Sempre quis me sentar ao seu lado e dizer o que você foi na minha história.Por muito tempo esperei uma iniciativa sua,e alimentei uma esperança tão bonita sobre essas coisas de destino,amor a primeira vista,cara-metade.Mas eu nunca te disse.Não poderia prever que o que começava a nascer ali,seria tão marcante na minha vida:

Você sorriu pra mim a alguns anos atrás.Eu,uma garota sem graça e de pernas enormes.Te achei educado,( mas nunca soube o que você pensou sobre mim.).A gente mal se falou,mas casualmente fomos passando a ter os mesmos amigos,os mesmos lugares.Com o tempo,você foi se tornando um assunto que eu gostava.Um encontro que eu esperava.Recordo os sábados a noite,quando a gente se reunia naquela única calçada badalada da cidade.Um oi...depois você de um lado,eu do outro.Mas sempre com um meio sorriso,carinhoso e tímido.Muito tímido.Me lembro deles comentando com graça sobre o casaco de lã azul que você nunca tirava.Mas eu adorava aquele teu casaco e metade das  lembranças que tenho de você,estão com o casaco de lã azul.E com o modo que você usava teu cabelo.E como você sorria quando as amigas roubavam do teu bolso,os chicletes de menta.Eu comecei a ver você de forma especial.Me encantava com teu jeito quieto,observador.Como você era diferente!É claro que aquela admiração rápida demais, me pareceu loucura no início;coisas da minha cabeça,empolgação,carência.Qualquer coisa que pudesse desacreditar o que estava acontecendo dentro de mim.Vinha um frio na barriga quando chegava,ingênuo e amigo.Era como se pudesse até ouvir o coração querendo pular pra fora do meu peito.Então vi que comecei a mudar.Desejei ser mais bonita,mais vísivel.Queria ter o cabelo da menina que você ficou.Eu passei a querer ser o que você gostava,mas até hoje eu não sei o que realmente fui.O que sei é que tudo foi muito forte, e a dimensão do que você estava me causando, me fez romper comigo mesma,(perdi a noção de muitas coisas.).É que era a primeira vez...era amor...e a essa altura,eu não via mais ninguém.E o que parecia singelo,foi tomando formas devassaladoras na minha alma.Era desejo me agredindo,era obscessão.E isso me fez tomar uma decisão; algo quase que irreversível para minha vida.Eu queria muito te contar sobre tudo isso um dia.Ninguém entendeu nada.Nem eu.Loucura.Só usei a última carta que eu tinha pra fugir e te mostrar que eu não estava nem aí pra tua insuportável falta de atitude.Houve dias em que eu quis que você viesse até mim e dissesse com todas as letras - acorda,não te quero!- Ou que me ligasse pra falar- olha,nunca estive tão bem!Que me escrevesse algo seco,do tipo- me esquece!.Quem sabe assim,eu não teria me desencantado de você?Te chamaria de estúpido,e tentaria te odiar.Mas você nunca foi assim.Nunca reagiu a nada.Era o mesmo modo tranquilo,ainda que nas piores situações.Senti vontade de te por contra a parede,te matar....te encher de beijos...te amar.É,eu nunca soube o que você sentiu;nunca cheguei perto do teu coração.E por isso fiz essa bobagem.Já fazem alguns anos,e eu ainda não me esqueci,nem nunca entendi o que (não houve) entre a gente.


Hoje eu te vi.Você continua bonito.Teu jeito de andar,ainda retraído e calmo.Você sorriu pra mim como se o tempo não tivesse passado.Como se o teu casaco de lã azul,nunca tivesse se desfeito.Por um momento me vi dentro dos teus olhos,numa sensação fortíssima de que ainda temos algo a viver.

Vim te escrever.Mas o que eu queria mesmo,era me sentar com você,te ouvindo dizer que se lembrou de mim em uma bobagem qualquer.Eu falaria dos meus sonhos,quem sabe.Do que não pude.Das coisas que não posso mais...






( Porque todo amor primeiro e intenso,ainda que platônico,sela lembranças.Resiste ao tempo.)


Patrícia Vicensotti

20 de julho de 2011

Por ter sido sincero...




Eu só desejo que quando tudo isso passar,um dia você compreenda: nada substitui nossas lembranças,nem o que foi a tua presença.Tudo teve muita força.E agora vejo que amigos tem mesmo que ser muito fortes para entender um silêncio e suportar a saudade de dizer o quanto ainda o amamos.

Patrícia Vicensotti

 ( Á alguém...)

Efêmera espécie


Poucos me sabem.Meus passos são tímidos e minha voz quase não diz.Por amante das miudezas,tenho o apreço da insignificância.Complicada e solitária,eis que preservo meus detalhes,quem dirá á algum milagre,com olhos a ponderá-los.Sou duas décadas antes da que nasci e antecedo três da que vivo.Tenho sentido como é dificil se integrar ao que não me cabe.Que presente é esse que me impuseram?Em que futuro me alicerçarei?Que passado me persegue?Sou a desfiguração atual,que aguarda desesperadamente uma explicação coerente á minha efêmera espécie.Encontrarei enfim um convívio?Poderei Senhor,me reconhecer com naturalidade aonde estou?Tenho sofrido demais com essa vida,incompreendida pela percepção conservadora e anti-promiscua.Eu assim,quero ser só.Quero ser tímida.Distante da epidêmica materialista.Quero continuar sendo esse bicho,enjaulada pelos principios,mas altiva a minha exclusividade. 

Patrícia Vicensotti

18 de julho de 2011

Noturno




A saudade
inspira essa noite.

Véu nebuloso da noite,
que envolve a dança fria:
Mão na palma da minha,
ouvido ao som do teu respiro.

És distante,meu amor.
Mas és tu neste noturno,
a estrela maior.

Tão solitário.
Eu só.
A canção que te aproxima
curva meu dorso crú.

Acendestes as luzes desta noite...

És distante,meu amor.
Mas és tu neste noturno,
a estrela maior.

És meu neste noturno.
Eu tua por deslumbro,
feito anéis de Saturno
a nos casar.

Patrícia Vicensotti



Mon Dieu!
Oh oui... mon Dieu!
Laissez-le-moi
Remplir un peu
Ma vie...


Edith Piaf